Dias mãeores

um blog de mãe para recuperar o tempo perdido em dias sempre mais curtos que o desejado

quinta-feira, setembro 10, 2015



Revisitar um blogue depois de anos de ausência é um exercício estranho.
É como revisitar um amigo importante que não víamos há muito tempo, reavivar os afectos e as emoções que nos ligavam, reconhecer-lhe os traços que guardámos na memória enquanto lhe descobrimos as pequenas rugas, novas, que o tempo foi deixando impressas na pele, as diferenças e desajustes entre quem éramos nessa altura e quem somos agora.
Não deixa no entanto de ser um momento de cumplicidade e reencontro que deixa vontade de voltar a escrever e a partilhar e faz renascer o prazer de pensar com as mãos e as teclas.
A ver se des-hibernamos em dias maiores, num movimento contrário a esta lenta entrada no Outono que começa em breve.

Poema Enjoadinho


Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos , melhor não tê-los
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

Vinícius de Moraes