Ainda o Brasil: os bichos
Maria Farinha
Recordo que na primeira madrugada já em território brasileiro os sons que vinham do exterior me deixaram irrequieta.
Apesar do cartaz turístico anunciar apenas(?!) praias paradisíacas e mar azul, viajei na esperança de ver de perto alguns dos bichos exuberantes que o guia anunciava e os documentários mostram, magníficos.
Sabia obviamente que não se tratava do Pantanal nem da floresta amazónica, mas ainda assim, a mata atlântica que subsiste (e resiste) no local deveria proporcionar-nos bons encontros.
Mata Atlântica
O crescimento do litoral brasileiro fez-se à custa da mata atlântica, um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo e um tipo de floresta densa e rica muito mais antiga que a floresta amazónica. Cobrindo originalmente todo o litoral brasileiro num total de 1 milhão de kilómetros quadrados (com uma largura de cerca de 800 km na zona de Rio Grande do Sul) subsiste hoje a custo em pequenas bolsas esparsas, espalhadas um pouco ao acaso pela linha costeira, entrecortadas pelas cidades que cresceram à custa da desmatação, constituindo não mais de 7% da área original.
Sagui
Ainda assim, reduzida e maltratada, abriga uma multitude de espécies fascinantes e em Pipa está preservada numa mini reserva - o Santuário Ecológico.
No meio da mata cerrada, a experiência é quase doméstica através de pequenos trilhos bem tratados no meio do arvoredo. O passeio faz-se cortando uma humidade densa e espessa. Os sons fazem adivinhar a bicharada que não se vê. Só os saguis atrevidos nos saltam ao caminho e os bem-te-vi volteiam no ar com a sua plumagem amarela.
Dos miradouros vê-se o mar imenso, a falésia e as baías, com os seus golfinhos e tartarugas, pequenas e fascinantes no seu movimento de vir à tona para respirar no meio das ondas em rebentação.
lagartos
Não é o documentário de vida selvagem que se imagina à partida, mas a intimidade da experiência não deixa de ser interessante. Tudo parece mais próximo e familiar.
A descida à praia verdejante de mato até à areia faz-se por uma escada de madeira e corda num simulacro de barco de piratas, um recurso para aliciar os mais novos na visita ao santuário.
Praia do Madeiro
Cá em baixo, na magnífica baía dos golfinhos, volta a visão de bilhete postal turístico. A praia imensa de areia branca, mar azul e coqueiros, surpreendentemente povoada de urubús e Marias Farinha, seres que desafiam o idílio de agência de viagens devolvendo realidade à miragem.
Urubús
E os golfinhos continuam nas águas quentes do oceano, volteando no ar e roubando destelhos de luz com a sua pele luzidia.
Desculpem os leitores que gostavam de mais detalhe e cientificidade na identificação dos bichos enunciados (e, claro fotos mais esclarecedoras!). Para esses, deixo aqui três sítios onde se pode recolher informação sobre bicharada, aprovados pelos meus amigos biólogos:
http://www.arthurgrosset.com/
http://www.fatbirder.com/links_geo/america_south/brazil.html
http://www.bsc-eoc.org/links/links.jsp?page=l_sam_br
http://www.nationalgeographic.com/wildworld/terrestrial.html
1 Comments:
At 15 julho, 2005 18:26, Anónimo said…
Passaredo
Ei, pintassilgo
Oi, pintaroxo
Melro, uirapuru
Ai, chega-e-vira
Engole-vento
Saíra, inhambu
Foge, asa-branca
Vai, patativa
Tordo, tuju, tuim
Xô, tié-sangue
Xô, tié-fogo
Xô, rouxinol, sem-fim
Some, coleiro
Anda, trigueiro
Te esconde, colibri
Voa, macuco
Voa, viúva
Utiariti
Bico calado
Toma cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
Ei, quero-quero
Oi, tico-tico
Anum, pardal, chapim
Xô, cotovia
Xô, ave-fria
Xô pescador-martim
Some, rolinha
Anda, andorinha
Te esconde, bem-te-vi
Voa, bicudo
Voa, sanhaço
Vai, juriti
Bico calado
Muito cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
(Chico Buarque)
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