A vespa
Esvoaçante e irrequieta a vespa via tudo às voltas
ZZZ
ZZZZ
ZZZZZZ
para trás e para a frente,
num frenesim,
o vento silvava-lhe nas asas
e distorcia o mundo
riscas,
linhas,
manchas,
uma aragem em movimentos geométricos
ZZZZ
ZZZZZZZ
ZZZZ
Estacou!
E se eu me fundisse com as formas?
A dúvida instalou-se de mansinho
mas foi tomando terreno.
ZZZZZ
ZZZZ
ZZZZZZZ
E num repente assim fez.
ZUT!
Metamorfoseou-se num quadro de Mondrian.
4 Comments:
At 28 julho, 2005 22:34, Anónimo said…
No caminho do eucaliptal havia um vespeiro. Alguém o descobriu e num ápice imaginou uma arriscada brincadeira. Naquela aldeia, naqueles tempos, para divertimento, pouco havia para além da imaginação criadora da rapaziada. O criador, se bem pensou, melhor organizou. Lá fomos em excitante correria. O primeiro espicaçou no vespeiro e cavou. As bichas saíram em cacho e em voo, ora razante ora picado, defendiam o seu hotel. “Quem não atravessar o caminho pelo vespeiro é maricas”, grita o Besouro. Naquela idade era a maior ofensa. E lá vai disto. Quem tinha casaco puxa-o a partir do pescoço tapando a cabeça e protegendo a cara e os olhos. Quem não tinha e eram muitos, pois casaco era coisa rara, protegia a face com ramos de tramagueira, que agitava freneticamente. Em louca corrida atravessávamos de um lado para o outro na esperança de sair ileso. Mas quanto maior era a nuvem de vespas, maior era o risco e o gozo. Até que, agora um, depois o outro, a picada lá vinha. Nas mãos, na cara e até nos pés, porque sapato ou bota era coisa rara e exótica. Eu lá me ia safando. Os pés eram afortunados, estavam nas botas, a cara e os olhos ficavam debaixo do casaco e já na corrida não era mau. Por cada ferroada, o remédio era mijadela para cima, receitada pelo Vítor Casa-Galinhas, que era o nosso curandeiro de arranhadelas e afins. O meu divertimento crescia na directa proporção de continuar ileso, quanto mais os outros eram atingidos. Quase exautos, obedecemos à palavra de ordem do Cariquiqui: - “Já chega. Só mais esta”. Por mero acaso, sou o último a partir. Recorri aos dotes da minha tão bem sucedida técnica de protecção, arrancando para os últimos 50 metros de glória. Corro que nem um desalmado e quando chego junto à malta, já bem longe do vespeiro, ufano, tiro o casaco de cima da cabeça e vou dizer sou o maior, quando sinto uma valente ferroada na pálpebra do olho direito. Engulo “o sou o maior”, abro bem os olhos e ainda vejo uma solitária e persistente vespa, como que a dizer “toma lá para aprenderes”. Em breves segundos a pálpebra inchou. Parecia que tinha uma batata no olho. Pior foi ter de fugir ao curandeiro que insistia na mijadela, única solução para travar o crescimento do inchaço. Na circunstância, a vingança servia-se quente.
At 28 julho, 2005 23:50, JNM said…
As vespas... ferram. No comment anterior está a demonstração material que ZZZZZZZZZZ ZZZZZZZ às vezes, é mau sinal.
At 29 julho, 2005 10:03, Filipa said…
querida,
por aqui sao melgas... muitas.. criando composiçoes menos artísticas nos corpos cansados do calor e oferecendo semelhantes composiçoes musicais...
vou de férias.. por um mês.
lá para os finais estarei em terras lusas e procurarei saber de ti e encontrar-te.
entretanto,
um enorme beijo, cheio de sol, sal e cheiro a praia!
At 29 julho, 2005 17:21, Anónimo said…
Paimica, essa é uma verdadeira história de Kamijazes, perdão,
Ka-mika-ses...
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