Goa ou o Guardião da Aurora
Só a noite conhece os guardiões da aurora.
Provérbio Hindu
Goa ou o Guardião da Aurora, de Richard Zimler é um daqueles livros que se entranha na pele pela carga emotiva, pela poesia e pelos odores que desprende.
A escrita de Zimler cheira a cravinho, masala, mangericão e manga.
É poética e realista em simultâneo.
Constrói personagens de uma profunda dimensão humana, no seu melhor e no seu pior.
Marcou-me como há muito tempo não me marcavam os livros.
Nem sei bem explicar porquê.
Durante 3 dias vivi a intensidade dos afectos numa teia de relações intensas e por vezes insanas numa família judia na Índia do século XVI, sob o jugo da Inquisição.
Nada me poderia ser mais distante e no entanto a escrita de Zimler retrata de forma tão actual a dimensão e dignidade humanas que é impossível não nos revermos nelas.
Levei tempo a sacudir as marcas que me impregnou no corpo. Andei uma semana a desejar comer (e sobretudo cheirar) mangas para poder viver mais intensamente a memória das ambiências descritas. Dorida pela perda de personagens que não me eram nada. Presa de uma espécie de feitiço literário.
Ajudem-me... Leiam o livro.
E depois digam-me como foi...
8 Comments:
At 22 agosto, 2005 11:22, jordi said…
OK, vou já reservar lugar na fila de espera literária.
At 22 agosto, 2005 16:23, JNM said…
Li " O Último Cabalista de Lisboa"
e senti-me assim... desolado...desamparado.
O homem é bom... e vou ler este, por certo.
At 23 agosto, 2005 09:16, Zé Maria said…
Já está na lista.
Beijinhos.
ZM
At 24 agosto, 2005 18:25, Anónimo said…
Salvemos a ManaMagana: Goa ao alvorecer-antes da monção, a água de um coco acabado de abrir, aconchega-me enquanto preparo desde já o almoço: caril recém moído, leite de coco de encomenda, belos camarões gigantes do Índico, das mãos de pescadores-por vezes pérolas; já regresso, a nau imaginária, em Lisboa refugo uma cebola, condimento com tomate, e espero o alquímico milagre do fogo. Um branco alentejano (o Vice-Rei daí partiu!), amigoas (o russo azul, claro). Que paladar! Perdoamos aos ignorantes Inquisidores. "Não há pecado", Cristo, Evangelho de Maria (Ev. Gnósticos, 131, Ésquilo). E como a História é feita de sofrimento; e quanto repetitiva ela (nós) somos. "Vós cometeis pecado..." acrescenta o Mestre. Para sincopar os sabores, intercalamos manga, abandonamos os sentidos ao espírito do vinho. Porque é vária a noite humana. Haverá aurora? Sim, é por amor dela que a noite nasceu.
At 26 agosto, 2005 09:50, Anónimo said…
Corrigenda: Erros meus, má semântica...
em vez de refugo, deve ler-se refogo.
At 26 agosto, 2005 10:23, sgs said…
que magníficos cheiros se vão libertando desta página de comentários...
At 11 maio, 2007 16:38, Anónimo said…
comigo também foi assim. Cemecei a querer comer sabores indianos, que, por acaso até gosto, mas quando estava a ler o livro, bateu-me com mais força. estes livros entranham-se em mim e não descanso enquanto não os acabo. quando acabo tenho que digerir e levo um tempinho sem ler nada, porque parece que nada pode substituir aquela vida que vivi enquanto leio o livro. enfim, o que se há-de fazer....agora vou ler o último dele "À procura de Sana".
At 17 abril, 2011 18:43, Anónimo said…
Olha, empresta-me lá o livro.
A minha mana que não é magana está neste momento em Goa a trabalhar.
coincidencias
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