Dias mãeores

um blog de mãe para recuperar o tempo perdido em dias sempre mais curtos que o desejado

quinta-feira, outubro 13, 2005

Primeiro livro de leitura - 1907



Lição - 1ª classe da escola primária (1907)

Para que vimos à escola

Vimos à escola porque desejamos aprender a ler e a compreender o que lemos.

Quando saírmos da escola, não teremos o nosso professor para nos ensinar. Como sabemos ler, compraremos livros e nêles aprenderemos muitas coisas úteis.

Vimos tambêm à escola para aprender a escrever bem e sem erros.

Quando estivermos longe dos nossos queridos pais ou dos nossos amigos, como sabemos ler, e escrever, podemos enviar-lhes notícias nossas e receber as suas cartas.

Vimos à escola para aprender a contar.

Quando formos homens poderemos negociar e fazer as nossas contas sem o auxílio de ninguêm.

Ainda aprendemos na escola muitas outras coisas mais, que precisamos saber, e que nos serão muito úteis pela vida adiante.

"O saber não ocupa lugar"

Guardai para vós os conselhos que dais aos outros.

Ouvi muito e não faleis senão a propósito.


Fim da lição!
E assim se estabeleciam os pilares básicos da função da escola (ensinar a ler, escrever e contar) nos primórdios do século XX, no livro da primeira classe do meu bisavô.
Depois da invenção dos computadores, dos correctores ortográficos,da internet, do e-mail e das calculadoras o que pensar sobre as razões aqui apontadas para se aprenderem estas 3 competências tão básicas?

6 Comments:

  • At 14 outubro, 2005 15:57, Blogger jordi said…

    E pensar que boa parte da geração que aprendeu por estes livrinhos plenos de candura foi malhar com os ossos nas trincheiras de Flandres menos de dez anos depois...

     
  • At 14 outubro, 2005 16:40, Anonymous Anónimo said…

    Sem qualquer resquício saudosista, do dantes é que era bom, é um facto que ficavam a saber contar. Certeza, difícil de comprovar nos tempos que vão correndo. Abençoadas máquinas de calcular.

     
  • At 15 outubro, 2005 00:30, Blogger X said…

    As máquinas de calcular podem ficar sem pilhas e a luz pode sofrer um apagão... mas a vida não pára e continuamos sempre a precisar de fazer contas e de escrever ;)

     
  • At 17 outubro, 2005 15:01, Anonymous Anónimo said…

    A minha avó tnha a convicção de que às sua lhes filhas bastava saberem ler e escrever uma carta para que as suas habilitações ficassem completas. Ao filho já convinha que soubesse de números, poruqe ao homem pertece a contabilidadde da casa. Assim as meninas terminaram a terceira classe e o menino adiantou-se-lhes um ano e completou a quarta classe.
    Porque princípios se orientarão hoje os pais nas ambições académicas dos seus filhos? Será que a pequenez da minha avó não se reflecte hoje no abuso das máquinas de calcular e dos correctores ortográficos e gramaticais? Já repararam no chorrilho de erros que povoa as páginas dos nossos jornais e revistas e as legendas do cinema e da tv? Só me deixa concluir que deve estar para muito breve a institucionalização do verbo 'tar'...

     
  • At 18 outubro, 2005 10:33, Anonymous Anónimo said…

    o Jordi tem razão. Este livro era do meu avô que foi 2º sargento na guerra de 1914-1918 e foi feito prisioneiro dos alemães. Era um dos membros de uma família de 8 irmãos que só tinham pra almoçar uma fatia de pão de milho com 1/3 de uma sardinha e faziam 8 km a pé para frequentar a 4ª classe. O pai deste meu avô, homem do campo que usava barrete, obrigou todos os filhos e filhas a fazer a 4ª classe e a todos mandou ensinar um ofício: - carpinteiro, pedreiros, costureira, modista de chapéus, merceeiro e sempre dizia que saber ler e contar era mais importante para a vida que ter o que comer.

    Foi com este meu avô dono do livro, que aprendi a ler com 3 anos de idade. A cartilha que usou para me ensinar foi o jornal O Século. As suas memórias e histórias da guerra marcaram e povoaram toda a minha infância e juventude e foram estas lembranças que hoje me fizeram escrever este post.
    mãe

     
  • At 29 outubro, 2005 00:04, Anonymous Anónimo said…

    Há uns dias atrás dei por mim a pensar: Talvez o choque tecnológico de que o país precisa seja apenas ensinar a Tabuada do Ratinho e a Cartilha Maternal João de Deus!
    Sei que não é muito "tecnológico" mas se calhar...

     

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