Primeiro livro de leitura - 1907
Lição - 1ª classe da escola primária (1907)
Para que vimos à escola
Vimos à escola porque desejamos aprender a ler e a compreender o que lemos.
Quando saírmos da escola, não teremos o nosso professor para nos ensinar. Como sabemos ler, compraremos livros e nêles aprenderemos muitas coisas úteis.
Vimos tambêm à escola para aprender a escrever bem e sem erros.
Quando estivermos longe dos nossos queridos pais ou dos nossos amigos, como sabemos ler, e escrever, podemos enviar-lhes notícias nossas e receber as suas cartas.
Vimos à escola para aprender a contar.
Quando formos homens poderemos negociar e fazer as nossas contas sem o auxílio de ninguêm.
Ainda aprendemos na escola muitas outras coisas mais, que precisamos saber, e que nos serão muito úteis pela vida adiante.
"O saber não ocupa lugar"
Guardai para vós os conselhos que dais aos outros.
Ouvi muito e não faleis senão a propósito.
Fim da lição!
E assim se estabeleciam os pilares básicos da função da escola (ensinar a ler, escrever e contar) nos primórdios do século XX, no livro da primeira classe do meu bisavô.
Depois da invenção dos computadores, dos correctores ortográficos,da internet, do e-mail e das calculadoras o que pensar sobre as razões aqui apontadas para se aprenderem estas 3 competências tão básicas?
6 Comments:
At 14 outubro, 2005 15:57, jordi said…
E pensar que boa parte da geração que aprendeu por estes livrinhos plenos de candura foi malhar com os ossos nas trincheiras de Flandres menos de dez anos depois...
At 14 outubro, 2005 16:40, Anónimo said…
Sem qualquer resquício saudosista, do dantes é que era bom, é um facto que ficavam a saber contar. Certeza, difícil de comprovar nos tempos que vão correndo. Abençoadas máquinas de calcular.
At 15 outubro, 2005 00:30, X said…
As máquinas de calcular podem ficar sem pilhas e a luz pode sofrer um apagão... mas a vida não pára e continuamos sempre a precisar de fazer contas e de escrever ;)
At 17 outubro, 2005 15:01, Anónimo said…
A minha avó tnha a convicção de que às sua lhes filhas bastava saberem ler e escrever uma carta para que as suas habilitações ficassem completas. Ao filho já convinha que soubesse de números, poruqe ao homem pertece a contabilidadde da casa. Assim as meninas terminaram a terceira classe e o menino adiantou-se-lhes um ano e completou a quarta classe.
Porque princípios se orientarão hoje os pais nas ambições académicas dos seus filhos? Será que a pequenez da minha avó não se reflecte hoje no abuso das máquinas de calcular e dos correctores ortográficos e gramaticais? Já repararam no chorrilho de erros que povoa as páginas dos nossos jornais e revistas e as legendas do cinema e da tv? Só me deixa concluir que deve estar para muito breve a institucionalização do verbo 'tar'...
At 18 outubro, 2005 10:33, Anónimo said…
o Jordi tem razão. Este livro era do meu avô que foi 2º sargento na guerra de 1914-1918 e foi feito prisioneiro dos alemães. Era um dos membros de uma família de 8 irmãos que só tinham pra almoçar uma fatia de pão de milho com 1/3 de uma sardinha e faziam 8 km a pé para frequentar a 4ª classe. O pai deste meu avô, homem do campo que usava barrete, obrigou todos os filhos e filhas a fazer a 4ª classe e a todos mandou ensinar um ofício: - carpinteiro, pedreiros, costureira, modista de chapéus, merceeiro e sempre dizia que saber ler e contar era mais importante para a vida que ter o que comer.
Foi com este meu avô dono do livro, que aprendi a ler com 3 anos de idade. A cartilha que usou para me ensinar foi o jornal O Século. As suas memórias e histórias da guerra marcaram e povoaram toda a minha infância e juventude e foram estas lembranças que hoje me fizeram escrever este post.
mãe
At 29 outubro, 2005 00:04, Anónimo said…
Há uns dias atrás dei por mim a pensar: Talvez o choque tecnológico de que o país precisa seja apenas ensinar a Tabuada do Ratinho e a Cartilha Maternal João de Deus!
Sei que não é muito "tecnológico" mas se calhar...
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