Dias mãeores

um blog de mãe para recuperar o tempo perdido em dias sempre mais curtos que o desejado

terça-feira, janeiro 23, 2007

And hold on to the dream!


Há discos que carregam em si todo o peso da existência.
Foram por isso discos que atravessaram as crises existenciais adolescentes e me mergulharam vezes sem conta nesse misto de desespero e rebeldia que antecede as verdadeiras metamorfoses da vida.
The Final Cut dos Pink Floyd foi um desses momentos musicais, banda sonora do crescimento, em anos em que a força interior se me dilacerava em vontades contraditórias, paixões impossíveis, missões urgentes e utópicas, e uma vontade louca de mudar o mundo.
E se a ambiência generalizada do disco se mistura numa tensão forte/fraco, optimismo/pessimismo, desespero/esperança, sempre houve para mim uma faixa onde tudo isso se tornava de tal maneira notório, límpido e verdadeiro, que as entranhas ainda hoje se me contraem quando a escuto com orelhas de fazer caso.
The Gunners Dream é um sussurro tenso que se desenvolve até um grito, mais ou menos a meio da música, prolongado por um solo de saxofone.
E eu ansiava com o coração acelerado, num crescendo de emoção contida por essa pausa magistral, a suspensão no tempo que prepara o ouvinte para a frase principal, o verdadeiro grito que fica a soar depois das palavras se terem desvanecido.
And hold on to the dream.....
Este era o momento da viragem em que o desalento se transformava em força, em que a angústia se transformava em prazer e vontade de andar para a frente.
Ainda hoje revivo este rodopio de emoções de cada vez que revisito o disco. Como se o poder dos gritos verdadeiros residisse de facto naquela frase e naquele solo, numa espécie de elixir contra a apatia e a resignação.
Que bom é estarmos vivos!

2 Comments:

  • At 24 janeiro, 2007 12:23, Anonymous Anónimo said…

    que bom estarmos vivos... e que bem que tu o dizes. Há sons que nos marcaram de tal forma o crescimento que quando os re-ouvimos entramos num cescendo de emoções. Para mim, o significado de saudade é mesmo essa emoção, um misto de alegria, nostalgia, euforia, tristeza e força. Sei o que sentes porque te ouvi(mos) muitas vezes tocar esse disco e porque tenho a mesma sensação quando ouço Blond on Blond do Bob Dylan. Só que nunca o tinha lido tão bem descrito.
    Beijos
    mãe

     
  • At 09 julho, 2007 04:06, Anonymous Anónimo said…

    Estava a pesquisar a respeito da música "the gunners dream" e quem sabe conseguir entender como ela é desde quando a ouvi, faz uns 20 anos, e até hoje é, tão emocionante para mim... Você descreveu com perfeição os seus (que poderiam ser os meus) sentimentos que existem na música... Obrigado e parabéns...
    Alexandre - Rio de Janeiro

     

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