Nossa senhora Das Coisas Impossíveis
Para a São
Nossa Senhora
Das coisas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela,
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas,
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto,
E que doem por sabermos que nunca os realizaremos...
Vem, e embala-nos,
Vem e afaga-nos,
Beija-nos silenciosamente na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma
E um vago soluço partindo melodiosamente
Do antiquíssimo de nós
Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha
Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos
Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida.
Álvaro de Campos
1 Comments:
At 21 dezembro, 2007 11:38, Anónimo said…
Respondo-te por dentro. Escuta:
«(...) O mundo é para quem nasce para o conquistar / E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. / Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. / Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo. / Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. / Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, / Ainda que não more nela; / Serei sempre o que não nasceu para isso; / Serei sempre só o que tinha qualidades; / Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta, / E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, / E ouviu a voz de Deus num poço tapado. (...)» Da «Tabacaria» do Álvaro de Campos
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