medronhos
Havia um medronheiro a caminho da Besteira, a vinha e zona de pomar onde íamos muitas vezes com a minha avó apanhar as frutas da família ou brincar na Selva dos Leões (o nome por que designávamos um pequeno sobreiral que lhe pertencia, um lugar fascinante cheio de mistérios e aventuras).
Este medronheiro era uma tentação, e por mais que a minha avó se apoquentasse connosco e com a quantidade de medronhos que dele comíamos no regresso a casa, a verdade é que os seus avisos e receios nunca se concretizaram nem nunca a fermentação do fruto nos deu verdadeira volta à cabeça ou à barriga.
Na verdade, fazia parte do jogo e do prazer, comer os medronhos maduros e vermelhos enquanto ouvíamos os seus avisos preocupados: meninos, não comam mais! olhem que isso vos dá volta à barriga! olhem que os medronhos ainda vos deixam doentes!... e mais uma ladaínha de bons e sensatos conselhos como uma espécie de música de fundo familiar e reconfortante (ela a fazer o seu papel de avó cuidadosa e preocupada, nós a garantirmos o nosso lugar de netos estouvados e meio desobedientes).
Era neste sítio também que havia uma bolsa de barro no terreno e por isso, em tempo húmido, muitas vezes aos medronhos juntávamos a brincadeira de modelar esta terra difícil (que nada tinha a ver com a boa argila, limpinha, que usávamos na escola) para a transformarmos em animais de formas toscas e divertidas.
Ainda hoje me lembro de memória exactamente do sítio onde tudo isto acontecia.
Há imagens que nunca nos largam e sabores que nunca esquecemos.
Foi por isso especialmente agradável rememorar os medronhos da minha infância numa manhã de recolecção familiar divertida e saborosa.
Quem diria que Monsanto, mesmo aqui ao lado, tinha tantos medronheiros?
E quem adivinharia que o A, tão picuinhas com tanta coisa, ia gostar tanto de apanhar e comer os frutos directamente da árvore e que o pai do A. aos 41, nunca tinha comido um medronho na vida? Que bela primeira vez para os 2 homens lá de casa!
Sabe tão bem o campo aqui tão perto.
Obrigada amiga pela lembrança e pelo convite (e pela foto com que ilustro estas memórias).
Etiquetas: maternidade; tempo; prazer
3 Comments:
At 28 novembro, 2011 14:19, Pé na estrada said…
:-) Sempre às ordens!!! E que manhã divertida foi. Obrigada pela companhia! :-D
At 28 novembro, 2011 15:42, mãezita said…
Sabias que o avômica também nunca comeu medronhos? Temos que o levar a provar. Será que ainda existe um medronheiro junto ao caminho para o Vale Bezerro? Era desse que eu mais gostava quando pequena porque tinhamos que trepar pelo valado acima a escorregar na lama com botas de borracha. Eram tão doces... Ainda bem que tiveste o privilégio de lhes saber o sabor para o poderes agora partilhar. Beijos amedronhados. Mãezita
At 09 dezembro, 2011 19:10, vamos brindar said…
e o medronho foi tanto que.... a vista ficou turva e não conseguiu encontrar a pass para voltar a colocar aqui algo... é o que dá, fígados fracos, mas não maus, isso não!
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