Dias mãeores

um blog de mãe para recuperar o tempo perdido em dias sempre mais curtos que o desejado

domingo, novembro 25, 2007

Domingo no mundo



O dia veste-se daquela luz branca de Inverno que desenha de forma acutilante os contornos de todas as coisas. O sol não serve para aquecer o corpo mas empresta uma luminosidade convidativa do lado de fora do vidro embaciado. Pelo andar apressado das minúsculas figuras que caminham na rua percebe-se que faz frio e vento e é fácil hesitar entre ficar a ver o mundo do lado cá da janela, no quente aconchego da sala, ou sair embrulhado em várias camadas para desafiar a aragem fria na cara, o lento adormecimento dos lábios, a vermelhidão das maçãs do rosto, o lacrimejar involuntário...

Hoje é dia de enquadramentos e por isso troco a janela de casa pela janela do carro e observo atenta as margens da estrada que desfilam ao meu lado. Domingo é dia de horta, ou assim me parece pela azáfama vivida nestas lavouras de beira de estrada, espantosas hortas conquistadas aos separadores do IC 19, às bermas inclinadas, aos baldios, aos muitos pedaços de terra deixados livres pela construção viária da Grande Lisboa.

Fascinam-me os retalhos verdes, separados por superfícies de lata ferrugenta, garrafas de plástico como espantalhos improvisados, lixo transformado em coisa útil e vistosa, couves galegas altivas e desconjuntadas, alfaces, pequenas leiras de cebola e batata, e tudo o mais que a terra parca e regada diariamente com milhares de centímetros cúbicos de tubo de escape consegue dar.

Para as pessoas que acrescentam estes víveres à sua sobrevivência diária nada disto parece importar pois os retalhos de terra cultivada são simultaneamente intrumentos de sobrevivência e janelas abertas para uma origem rural deixada para trás, pontes para um universo em que a terra não vale pelo cimento que a aumenta em altura mas pelas sementes que consegue fazer nascer e medrar.

Talvez por isso mesmo estas sementes medrem nestas terras baldias, apesar do tubo de escape, porque os desvelos com que são roubadas ao plano viário as individualiza e resgata. E nem o sol, branco, que tão claramente desenha todos os contornos dos subúrbios e seus bairros sociais me apaga a calidez provocada pela sensação deste resgate.

Apetece-me trocar a lucidez costumeira pela ingenuidade.
Sentada, confortável e aconchegada do lado de dentro desta janela que emoldura o mundo em movimento lá fora, percorro os vários quilómetros do IC19 com olhos de quem se espanta e entrega. Abarcando estes corpos dobrados sobre si próprios, em movimentos ritmados no desbravamento da terra, cavando, sulcando, afagando, prenhando os terrenos infestados de cheiro a gasolina da capacidade magnífica de se reinventarem em cada safra.

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sexta-feira, novembro 23, 2007

sábios brancos caiados




espaços de luz e filosofia a lembrar o mediterrâneo ao longe

quarta-feira, novembro 21, 2007

desculpem...

... mas os meus dias ultimamente medem-se pelo tamanho do meu nariz vermelho e pelo número de lenços de papel gastos.

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