Dias mãeores

um blog de mãe para recuperar o tempo perdido em dias sempre mais curtos que o desejado

sexta-feira, agosto 26, 2011

Faz de conta


(a brincar com golfinhos e uma "Mafalda loura" da playmobil)

Às vezes quer ser a mafalda, ou mais precisamente, a mafalda loura e isso já nos levou a explicações embaraçadas junto da escola e desconhecidos.
Porque temos consciência de que soa estranho que uma criança do sexo masculino deixe de responder pelo próprio nome e passe a responder, e apenas, pelo de Mafalda, comportando-se e falando de forma diferente, sem prévio aviso nem contextualização para quem observa e não conhece os meandros da coisa.

E no entanto não tem grande mistério. Fã como é do espectáculo dos golfinhos do Jardim Zoológico de Lisboa, é natural que o A. saiba o nome de todos os tratadores e tratadoras, bem como o de todos os golfinhos a quem já fez festas e deu beijinhos várias vezes, e que de entre todos eles tenha escolhido o da Mafalfda loura (como ele) como tratadora de eleição.

E é uma fixação que dura há muito tempo obrigando-nos a assumir frequentemente o papel do Walter (pai) e Lia (mãe), os eternos colegas tratadores da nossa Mafalda, porque para o A. estas coisas se fazem como deve ser. E nós achamos graça. è uma idiossincrasia curiosa e divertida que, excluindo os embaraços ocasionais, nos torna mais originais como família.

O que não esperávamos é que esta transmutação pudesse durar tanto tempo.

Ontem regressou a casa transformado em Mafalda, brincou, conversou, jantou e deitou-se enquanto Mafalda,com uma voz e uma postura ligeiramente diferentes, mais adulta, um comportamento irrepreensível (devo dizer que um serão com a Mafalda é um descanso), opinando sobre coisas várias de um ponto de vista diferente, falando do A. na terceira pessoa e com uma coereência surpreendente (explicas-me como é que isto se faz? é que o A. sabe fazer mas eu nunca tinha cá estado antes e não sei), adormecendo sem chucha porque é mais crescida e já não usa!

E hoje, ao acordar, ainda era a Mafalda quem dormia na caminha pequena, dizendo que o A. se tinha ido embora a meio da noite para casa de um amigo e não tinha voltado. Foi ela quem comeu o pequenos almoço, se vestiu sem reclamar e se encaminhou calmamente para o carro, apesar das muitas tentativas minhas para fazer regressar o A. dessa noite fora de casa porque tinha de o levar à escola (e aparentemente ele agora estava invisível).

Já um pouco preocupada com este faz de conta insistente fi-lo despedir-se da Mafalda à porta do Jardim Zoológico porque ele agora tinha de ir para a escola e ela tinha de ir trabalhar.
E ele assim fez, com um beijo sonoro e um adeus até logo.
Mas ficou cabisbaixo, de beicinho tremido e lágrimas grandes a saltarem-lhe dos olhos. E nem cinco minutos tinham passado e já ele chorava verdadeiramente ao meu colo, inconsolável como quem se despede realmente de um ente querido, a dizer que a Mafalda agora se tinha ido embora e que estava muito triste.

O colo e o carinho da mãe desanuviaram a tristeza (como costuma ser prerrogativa dos colos e carinhos das mães) mas não desfez o ligeiro nó que me ficou no peito.
Será normal? O que fazemos?

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1 Comments:

  • At 26 agosto, 2011 12:25, Blogger anad said…

    Para mim é absolutamente normal. Eu no Algarve com a minha neta de 4 anos, que se transformou em Vera, João, José Maria, Sr. Martins, fizemos vários programas de televisão, entrevistas, trabalho de escritório, tudo em diálogo do mais incrível que tu possas imaginar (não te esqueças que os pais são jornalistas)e por fim aqui há alguns dias, O Sr. Martins (personagem da minha neta) fez-me dizer os meus dados pessoais que ela «escrevia» num computador e de repente levantou-se e disse-me a Srª. por favor espere que eu vou buscar o iped. Como vês brincadeiras um pouco distantes das que eu fazia também em diálogo comigo mesmo na mesma idade mas que entravam os bichos da quinta onde eu vivia e as princesas e príncipes dos livros de histórias.
    Tudo normal e com descontração.
    Vou para a Índia e vou-me afastar disto tudo.
    Beijinhos.
    Ana Duarte

     

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