A lata estava lá, as sardinhas também, a conserva durou uma hora, longa, suada, quente e em más condições, com queixumes, desmaios, ataques de claustrofobia e crianças enjoadas prestes a vomitar.
Sem uma palavra!!!!
Quando olhei o relógio da estação senti-me satisfeita por ir chegar mais cedo do que esperava uma vez que tinha imenso que fazer.
9h14! Mais uns minutinhos e estaria sentada à secretária, de café na mão, a riscar itens na lista do A Fazer de hoje.
Possivelmente todos os que entraram no metro em Sete Rios partilhavam esperanças semelhantes e por isso todos nos apertámos mais na simpatia de deixar entrar mais um que quer chegar rapidamente ao destino.
3 minutos depois uma travagem brusca atirou-nos uns para cima dos outros, espremendo-nos mais um bocadinho e obrigando-nos a uma recomposição da postura entre sorrisos e desculpas educadas.
E foi assim, estacados, que começou uma longa hora de espera, sem notícias, sem ar condicionado, a meia-luz, sem explicações.
Na verdade não sei dizer o que se passou pois nada foi anunciado pelo altifalante, nem mesmo quando o alarme de emergência foi accionado por um de nós na tentativa de aliviar o pânico de uma passageira que sofria de claustrofobia e chorava num desespero baixinho entre ataques de falta de ar.
Os telemóveis tocavam e ligavam toda a gente ao exterior mas lá dentro, de janelas seladas, nada mais saía que as conversas entrecortadas de quem avisava, se queixava ou simplesmente conversava. A resignação pacata e lamentosa do português imperava (ao menos isso) e o tempo escoava devagar.
Ao fim de meia hora o nível de nervosismo começou a ser palpável, denso, quase tão visível quanto o suor e o cheiro a gente, todos de pé numa promiscuidade forçada. Alguém do Metro chegou e abriu as janelas com uma chave de segurança mas não deu explicações, nem melhorou a atmosfera na verdade, pois as pequenas gretas não conseguiam fazer entrar nem circular o pouco ar que habitava o túnel.
As luzes tornaram-se mais fracas e aos 40 minutos ficámos a meia-luz.
Ouviram-se suspiros e ais contidos.
O pânico da moça tornou-se um soluço ofegante, os queixumes telefónicos aumentaram, o silêncio dos altifalantes do Metro manteve-se.
Só ao fim de uma hora nos abriram a porta dos fundos e mandaram descer com cuidado, a conta-gotas, entreajudando-nos. O INEM lá estava para acudir aos mais ansiosos (havia vários por carruagem), os seguranças também para orientar toda a gente … a estação da Praça de Espanha também, a 10 metros, iluminada e pacata como se nada fosse!!!
A primeira carruagem estava parada a menos de 10 metros da plataforma de embarque, havia gente que esperava no cais por entre os chorosos e assustados que saíam da linha. De repente tudo parecia fazer parte de um filme surreal. As pessoas à espera como se nada fosse, o metro ali parado à vista da estação, tão perto que bastava um salto, as pessoas sentadas no chão e nas escadas a serem assistidas pelo INEM.
Que explicação existe para nos manterem fechados durante 60 minutos quando o cais da estação estava a 10 metros?
Porque nunca nos avisaram de nada nem tentaram descansar as pessoas que se encontravam fechadas sem poder fazer nada?
Porque nunca responderam ao accionar do alarme de emergência?
Porque não nos evacuaram todos a partir da carruagem da frente, calma e rapidamente, visto ser a mais próxima da estação, assim que se aperceberam de que não podiam continuar a marcha?
O que aconteceria se esta tivesse sido uma situação de emergência verdadeiramente grave?
Que planos de evacuação e emergência existem realmente na rede do metro (agora sobre-utilizada por causa do fecho da estação do Rossio)?
Temo que tal como as sardinhas em lata, estas, a metro, também sejam um produto tipicamente nacional!