25 de Abril sempre
ficus macrophylla
Acordei com a frase viva a liberdade presa nos lábios, ansiosa por se soltar no sol da manhã.
Olhei-te por isso com olhos de princípio de dia, renovados, ansiosos e sussurrei várias vezes como quem recita baixinho: viva a liberdade, viva a liberdade, viva a liberdade.
Há coisas que se devem dizer assim, muitas vezes, como um pequeno mantra, para não esquecer, para saborear as palavras e fazê-las redondas na boca.
Amaciando-as sem as deixar perder o que têm de força e de contundência.
Há tanta força nas coisas redondas!
Plenas, cheias, prestes a explodir!
E o dia decorreu depois sob este sol glorioso, inundado de luz, com a revolução a correr ao fundo, na avenida da Liberdade e nós escondidos (meio culpados...) no meio do verde do Jardim Botânico onde outras lutas silenciosas se travam contra o esquecimento e a decadência.
Encostados, quietos, a ouvir a respiração do mundo vegetal e a chilreada festiva, com os remorsos a corroerem as entranhas de cada vez que se escutavam os tambores e as palavras de ordem das lutas que se travavam lá em baixo, a caminho dos Restauradores e do Rossio, (lembrando outras que se travaram ali tão perto, no Terreiro do Paço, no Largo do Carmo e em que não estivémos, como não estávamos nesta).
Sem cravos vermelhos na mão nem na lapela (pela primeira vez em tantos 25 de Abril) mas agarrados a uma ficus macrophylla exuberante, poderosa e metafórica na sua forma de lançar raízes em seu redor, tão fortes e grossas que estrangulam tudo o resto.
A beleza pode esconder coisas terríficas.
É preciso manter os olhos bem abertos!
Cuidado Casimiro!
(e de novo o sussurro: viva a liberdade, viva a liberdade, viva a liberdade)