Foto (s) síntese
Não resisti em fazer render o peixe com esta síntese das 4 imagens anteriores.
A falta de tempo tem-me guardado as palavras à espera de dias maiores. As sínteses são por isso o único registo possível no combate a estas horas fugazes sempre menores que o que seria necessário.
O regresso de Berlim foi feito há mais de duas semanas mas a vontade de partilhar as memórias permanece na ponta dos meus dedos.
É um cidade viva e jovem, onde tudo se faz de bicicleta e a história nos confronta em cada esquina. O leste tornou-se o verdadeiro coração da urbe e o muro (ou a memória dele) uma fronteira que delimita as zonas mais jovens e de maior dinamismo e crescimento.
Urbanisticamente é um espaço estranho, onde as grandes construções ideológicas do universo comunista partilham espaço com os novos marcos do capitalismo global. Metade da cidade é ainda um estaleiro em construção, que ocupa furiosamente as antigas terras de ninguém entre os dois lados da cortina de ferro, praticamente irreconhecível para quem a tinha visitado há 15 anos atrás ainda com as cicatrizes da história recente demasiado visíveis.
Agora os jovens tomaram de assalto os bairros de leste (mais baratos) que se tornam zonas de bares, cafés e restaurantes com graça e gosto, lojas de design e ambiente descontraído, ora irreverente ora cool-urbano. Mantém-se bolsas de cultura punk e antigos funcionários cinzentos e rudes, decididos a penalizar todos os que se lhes dirigem com toda a metodologia STASI que sofreram na pele.
A segunda guerra mundial e a guerra fria marcam itinerários e paredes com buracos de balas e obuzes, guaritas de vigilância, ruínas de muro, checkpoints, bunkers e memoriais (de libertação e ocupação segundo o ponto de vista ideológico). A nostalgia surge de quando em vez como seria de esperar no confronto com a falha rotunda de grandes promessas ideológicas e ainda que ingénua, nota-se por vezes um certo carinho no retrato de uma determinada Berlim Oriental com os seus Trabant de estimação, as suas férias predestinadas e as suas casas-tipo (a mascarar a violência da uniformização e da anulação da liberdade individual).
A ironia habita inexoravelmente muitos dos espaços: um memorial aos judeus mortos pelo regime nazi construído sobre o bunker de Goebbels e a 100 m do bunker de Adolf Hitler e pintado com uma tinta produzida por uma firma subsidiária da antiga firma que produzia o gás mortífero Ziclon B usado nos campos de concentração; o antigo parlamento de berlim leste destruído para voltar a ser o palácio dos reis da Prússia e dar origem a mais um centro comercial com hotel de luxo (mesmo nas costas das esculturas de Marx e Engels).Como se o cosmos ironizasse de si próprio através dos homens e das suas contraditórias formas de materialização histórica!
Mas regra geral é uma cidade amigável, descontraída e fervilhante, onde o custo de vida é igual (e nalguns casos inferior) ao de Lisboa e onde o prazer de transformar todas as deslocações em passeios cicláveis alimenta a sensação de que tudo está próximo e acessível e de que a liberdade de movimentos é total.
Recomenda-se vivamente:Alugar bicicletas.
Fat Tire Bike tours (fizemos o city tour para um contacto panorâmico com a cidade e o Cold war and berlim Wall tour, para um conhecimento mais aprofundado da história recente).
Hamburger Bahnhof (Museu de arte Contemporânea)
Pergamon Museum (as portas da babilónia valem por toda a visita)