Dias mãeores

um blog de mãe para recuperar o tempo perdido em dias sempre mais curtos que o desejado

segunda-feira, janeiro 30, 2006

dias reflexos







Há um fascínio especial na captura da luz.
Uma vontade de reter por instantes o fulgor cintilante dos reflexos, dos raios, das pequenas miragens luminescentes.
E é espantoso pensar que tudo o que vemos é resultado desta combinação entre a luz e a sombra, entre a percepção e a memória retiniana.
Tão simples, tão espantoso...
É caso para reflectir
(uma palavra a juntar à lista de Palavras-para-sair-à-rua-em-dias-de-sol)

arrepios de neve no teu nariz...











Vista inusitada de Monte Abraão.
29 de Janeiro de 2006

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Equilíbrio



Balança

No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.

Eugénio de Andrade

Bom fim-de-semana!

quinta-feira, janeiro 19, 2006

arrepios de neve nas tuas costas







Na pele das cidades pulsa uma poesia feita de gritos e sussuros.
Nas paredes, nos muros, nas janelas...
e aqui (num dos textos mais bonitos que a blogosfera deu à luz nos últimos tempos).

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Onde pára a virtude?




No rescaldo da reflexão de sexta-feira 13, aqui vai mais uma achega.
Para além de também ter certamente a sua dose de irmãs feias, a Virtude senta-se afinal no meio do vício e da vaidade.

Aspectos da Virtude
O que tomamos por virtudes muitas vezes não passa de um conjunto de acções diversas e de diversos interesses que o acaso e a nossa indústria sabem ajustar; e nem sempre é por valentia e por castidade que os homens são valentes e as mulheres castas.
A virtude não iria longe se a vaidade não lhe fizesse companhia.
(...) Os vícios entram na composição das virtudes como os venenos na dos remédios. A prudência mistura-os, tempera-os, e serve-se deles eficazmente contra os males da vida.

La Rochefoucauld, in 'Reflexões' (via citador)

terça-feira, janeiro 17, 2006

Ó clemência, ó martírio!



Haverá porventura algum programa com um maior ratio de afirmações estúpidas, absurdas e abstrusas por segundo do que o prós e contra?
Deveriam ser multados!
Chiça!

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Arre!



Depois de andar uma semana inteira a lutar contra o monopólio desgastante do trabalho na esperança e fé de ter tempo para criar um post que rompesse com o marasmo em que se encontra este blogue deparei-me com um dilema de classificação.

Diz o Rui Tavares num brilhante artigo do Diário de Notícias de hoje (sexta-feira 13) sobre o livro de David Hume Os limites da Superstição:

"Do ponto de vista religioso, a superstição é um "excesso perverso de religião... um vício oposto por defeito à virtude da religião" (...). Para o crente, a superstição seria assim a irmã feia da fé. Já o descrente, porém, nunca viu grande diferença entre as duas."

Ora bem, isto leva-me a crer que andei a semana inteira com a irmã feia da fé, a fazer figas enquanto esperava que o tempo se detivesse nalgum ponteiro esquecido e me desse tréguas momentâneas.
Mas foi só quando troquei a superstição pela pura teimosia que finalmente consegui largar tudo e escrevinhar estas linhas que vos deixo.

Arre, sacrilégio, que a teimosia quase tudo pode!

E no meio disto tudo, onde andará a virtude?

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Paf



No meio da distração e da correria, bem no centro da passagem, PAF, a explosão de cor a barrar-nos o caminho.
Luxuriante e viva.
Hipnótica.
Imprevisível...


Bom fim-de-semana!

quinta-feira, janeiro 05, 2006

inícios de ciclo





A imobilidade é um grilhão poderoso.
Assume contornos sedutores quando nos apanha desprevenidos, cansados, sem saber o que fazer aos braços e aos dias, aos desejos e aos ensejos.
Talvez por isso mesmo se tenham inventado os rituais, marcos temporais que mantêm a ordem e reforçam a repetição das coisas, enquadrando a mudança numa estrutura de permanência e conforto. Pequenas pausas de calmaria no turbilhão da vida, breves zonas de transição entre ciclos, fins e inícios. Ilusoriamente imóveis.

Mal saída ainda das últimas semanas de rituais, celebrações e fins de ciclo, não consigo deixar de remexer nas memórias, nos planos, nos desejos e sentir esta tensão permanente entre a pausa e o movimento.
Gosto de rituais. Gosto da zona de fronteira difícil em que se situam - o brevíssimo espaço entre a permanência e a mudança, entre a repetição e a alteridade, entre o fim e o princípio.
Zonas de charneira e regeneração.

Escrevi há uns tempos:
Do meu banco de jardim recuso-me a ver passar o tempo.
Faço e desfaço as horas rodando os ponteiros do relógio para trás e para a frente como quem desafia o destino.
A pele fundida com o vermelho lascado da madeira, os veios desenhados nas pernas, os músculos tensos, prontos para a recusa da imobilidade.
Assim me preparo para saltar. A qualquer instante.
Sobre a minha própria falta de vontade.
Como uma sombra.
Sempre alerta...

8 meses depois, retomo aqui a promessa neste novo início de ciclo.

Que 2006 possa ser mais um ano de mudança e movimento (com momentos de pausa e suspensão).
Em dias maiores...