Dias mãeores

um blog de mãe para recuperar o tempo perdido em dias sempre mais curtos que o desejado

sexta-feira, junho 23, 2006

follow the truck




Firaplaka


Agios Yoannis

A visão marítima de Milos deixa entrever uma ilha árida e calcária com uma baía ampla e fechada em forma de ferradura e um monte redondo coroado de casinhas como um bolo de noiva. O que os olhos não adivinham do mar é que toda a extensão rochosa se encontra crivada de grandes minas de caulino a céu aberto e túneis escavados nas rochas para albergar currais, casas, celeiros, barcos, bem como formações geológicas surpreendentes que vão do branco imaculado de uma superfície lunar ao vermelho fogo das falésias ferruginosas.

Por este motivo Milos não é propriamente uma ilha turística e oferece o privilégio de passar dias inteiros apenas com o mar e o sol por companhia, se os visitantes forem intrépidos e teimosos o suficiente para percorrer quilómetros de terra batida e esburacada, atrás de camiões poeirentos, em busca de praias desertas.
Neste sentido Milos é uma ilha desconcertante, cheia de maquinaria abandonada, camiões e crateras, casinhas brancas, flores e cores berrantes sobre a alvura das paredes e água em todos os cambiantes de azul.

Exige-nos assim que a linha que separa a perserverança da teimosia se confunda muitas vezes até nos brindar com pequenas enseadas de falésias extraordinárias e pedras de cores incríveis e uma água cristalina e morna de uma transparência impossível.

Siga o camião e arrisque-se a uma experiência verdadeiramente gratificante!

de olhos em bico

Uma pequena interrupção nas incursões pelo mar Egeu só para deixar um apontamento.

Digam-me sinceramente, que criança pode crescer sem problemas psicológicos se todos os dias almoça, comendo deliciada, os seus queridos amiguinhos?


marmita - almoço (japão)


marmita - almoço (japão)

geografias idiossincráticas

"Cada viajante constrói, das cidades que ama, uma ideia que raramente coincide com a lógica da geografia urbana.
(...) A sua noção de geografia é essencialmente afectiva, as suas preferências não são racionais, e, por isso, essa zona eleita figura no seu espírito, e para sempre, como centro da cidade."
António Mega Ferreira (a respeito de Roma)

Talvez por iso mesmo na minha memória, a geografia idiossincrática de Atenas se desenrole em torno de 3 eixos muito pessoais:



o Mono, restaurante maravilhoso onde a comida surge como um passaporte com salvo-conduto directo para o Olimpo, numa mistura equilibrada e estética entre a tradição e a modernidade.




as tartarugas na Ágora, refasteladas na relva recém regada, impassíveis à proximidade dos vários níveis de ocupação histórica e arqueológica do espaço circundante, à vizinhança da Acrópole e do templo mais bem conservado da Antiguidade. 5 carapaças em movimento lânguido, inesperadas no meio do peso histórico e seriedade do momento.



a memória da acrópole, espaço para mim mais real que o espaço material actualmente visitado, pois surge-me sem andaimes, sem guindastes, sem seguranças de apito como árbitros de futebol, nem calor capaz de derreter o mármore polido do chão.
O confronto entre o ícone e a imagem é sempre complexo e neste caso sei que opto definitivamente pelo ícone.

quarta-feira, junho 21, 2006

regressos e memórias gregas







De regresso, sinto ainda o azul intenso sobre a alvura impossível das casas gregas a toldar-me a visão.
Por isso os próximos dias serão assim, pontuados de azul e branco, de águas cristalinas e breves relatos soltos.
Na verdade o único tipo de diário de viagem possível por ser aquele que captura apenas o que guardamos em fiapos e fragmentos, cosidos uns aos outros pelo invocar de sensações fortes, ideias e reflexões.
Ou pelo menos, o único tipo de diário de bordo que alguma vez fui capaz de escrever.
Em retrospectiva, num exercício de memória, construção e reinvenção.

quinta-feira, junho 08, 2006

Interregno



Avisam-se os estimados leitores que vamos viver dias maiores para outras paragens.
Pedimos desculpa pelo incómodo e prometemos ser breves.

No regresso retomaremos este contacto que tanto nos apraz, cheios de histórias para contar.

E já agora, aproveitem bem os feriados que eles não se querem pequenos, nem se criaram para outra coisa!

segunda-feira, junho 05, 2006

hortas urbanas




Para compensar o excesso de betão lá fora e poder colher uma alface, com carinho, sem embalagens de celofane a asfixiar-lhes o verde magnífico das folhas.