A imobilidade é um grilhão poderoso.
Assume contornos sedutores quando nos apanha desprevenidos, cansados, sem saber o que fazer aos braços e aos dias, aos desejos e aos ensejos.
Talvez por isso mesmo se tenham inventado os rituais, marcos temporais que mantêm a ordem e reforçam a repetição das coisas, enquadrando a mudança numa estrutura de permanência e conforto. Pequenas pausas de calmaria no turbilhão da vida, breves zonas de transição entre ciclos, fins e inícios. Ilusoriamente imóveis.
Mal saída ainda das últimas semanas de rituais, celebrações e fins de ciclo, não consigo deixar de remexer nas memórias, nos planos, nos desejos e sentir esta tensão permanente entre a pausa e o movimento.
Gosto de rituais. Gosto da zona de fronteira difícil em que se situam - o brevíssimo espaço entre a permanência e a mudança, entre a repetição e a alteridade, entre o fim e o princípio.
Zonas de charneira e regeneração.
Escrevi há
uns tempos:
Do meu banco de jardim recuso-me a ver passar o tempo.
Faço e desfaço as horas rodando os ponteiros do relógio para trás e para a frente como quem desafia o destino.
A pele fundida com o vermelho lascado da madeira, os veios desenhados nas pernas, os músculos tensos, prontos para a recusa da imobilidade.
Assim me preparo para saltar. A qualquer instante.
Sobre a minha própria falta de vontade.
Como uma sombra.
Sempre alerta...
8 meses depois, retomo aqui a promessa neste novo início de ciclo.
Que 2006 possa ser mais um ano de mudança e movimento (com momentos de pausa e suspensão).
Em dias maiores...