Dobrados sobre si próprios num movimento cadenciado e absorto, os respigadores recuperam o que a sociedade desperdiça.
Isolados,
em grupos,
individualistas,
solidários,
dóceis,
agrestes,
estes homens e mulheres sulcam o restolho, os campos e as lixeiras com mãos rápidas como sondas.
Prontos a colher o que as máquinas, ou outras mãos, deixaram para trás.
Céleres a aprovisionar o que o mercado (e as suas leis) não soube vender nem aproveitar.
Precisos na (segunda) escolha do que a sociedade de consumo deixou no seu rasto de dejectos.
Depois de muitas oportunidades perdidas para ver o
filme de
Agnés Varda, ontem finalmente consegui não desperdiçar a nova hipótese proporcionada pelo
ciclo de cinema francês no Nimas.
E ainda bem pois o filme superou todas as expectativas na sua linguagem poética e despretensiosa que só conseguimos encontrar nalgum do cinema francês.
Agnés Varda promove uma reflexão sobre a sociedade do desperdício mas não faz verdadeiramente um documentário.
Há demasiado envolvimento na forma como as imagens são captadas.
Uma câmara que filma como quem anda ao rabisco.
Que reaproveita, sublinha, comenta, enfatiza.
Um filme a não perder, que repete hoje no Nimas às 15h00 e às 22h00.
Respiguem nos vossos relógios as migalhas de tempo que vos sobram.
Juntas darão certamente para muito mais do que imaginam...
Tenham um fim-de-semana maior.