Dias mãeores

um blog de mãe para recuperar o tempo perdido em dias sempre mais curtos que o desejado

quarta-feira, setembro 29, 2010

arquipélago de estocolmo




Faltou-nos o sol dos prospectos turísticos mas o cinza do céu chumbo combina bem com a imensidão aquática e com a míriade de ilhas, ilhotas, povoadas e despovoadas, pacatas e movimentadas, para eremitas e para gente de festa, de rochedos planos e áridos, com árvores, com ninhos, com muitas pequenas casas coloridas à beira d'água a desafiar a monocromia com os seus vermelhos provocantes.
Uma viagem que valeu a pena, longe das hordas de turistas, numa linha normal de ligação insular (por recusa dos cruzeiros organizados), com o olhar pausado pelo ritmo do barco e pela placidez e pacatez das vistas.
Aparentemente todos os habitantes de Estocolmo têm uma segunda casa, assim de madeira, da simples cabine à mansão abastada. É fácil perceber porquê, a beira d'água convida. Talvez por isso sejam um tanto ou quanto circunspectos estes nórdicos, tanta água tolhe o discurso e apela ao isolamento e contemplação.
Tenho a certeza de que todos tiram a carta de marinheiro antes da de condução!


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terça-feira, setembro 28, 2010

crescer, crescer





Quando era pequena ir à vinha significava ir na verdade a todos os pequeninos terrenos que a minha avó tinha e comer uvas, nêsperas, cerejas, ameixas das árvores (no devido tempo, claro está) e apanhar barrigadas de medronhos de regresso a casa (para grandes arrelias e preocupações da minha avó).
Era nestas idas à vinha também que visitávamos a selva dos leões (o sobreiral misterioso onde todos nós, os netos, inventávamos aventuras e tesouros) e o charco das rãs de onde trouxémos vários desgraçados exemplares para casa. E também onde o farnel de pão com manteiga (uns pãezinhos em forma de pombinha que o padeiro fazia de propósito para os miúdos e que a minha avó comprava cedíssimo para garantir que nos calhavam a nós) me sabia como nunca mais nenhum pão com manteiga me soube.

Destes campos lembro-me muito das caixas de cartão com cerejas e nêsperas que a minha avó despachava todos os anos para Lisboa para que nós, os netos da cidade, pudéssemos saborear também, mesmo longe, os deliciosos frutos pequeninos, maljeitosos, mas dulcíssimos daquela pequena safra.

Agora estas terras estão ao abandono e a minha avó num lar com alzheimer, a selva dos leões foi vendida e há décadas que não como um medronho.

Isto (apesar do tom lamentoso e um pouco lamechas) não desfeia nem apequena as memórias, pelo contrário, faz-me ver como a minha infância foi privilegiada e procurar tentar dar ao A., nem que seja, um breve vislumbre do que pode ser este contacto directo com as frutas ainda nas árvores e a vindima de uvas ainda quentes do sol.

Felizmente ainda há na família quem se dedique à terra.
O outro avô (o seu bisavô), com uma genica invejável para os seus oitenta e muitos anos mantém em dia esta relação (agora com cursos para jovens agricultores!!! a acrescentar à farta experiência). Nas suas vinhas ganhei muitas vezes o salário com que viajava no Verão. As vindimas foram durante anos o complemento ao meu pé-de-meia para inter-rails e a minha via de ligação ao meu lado mais telúrico e ancestral.

Hoje em dia o contacto é mais esporádico mas ainda permite apanhar peras, maçãs e uvas directamente da terra que as alimenta e nutre. Por isso, um destes Domingos de início de Setembro a pargunta "Que vamos?" do A. teve como resultado um - vamos ao campo apanhar fruta!
Para o A. foi uma estreia e uma novidade, entusiasmante e saborosa como compete a uma boa tarde soalheira e outonal.

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domingo, setembro 26, 2010

Cou Cou



Cou Cou! Ah!
Cou Cou, não está,
Cou Cou, olha, está aqui!
Cou Cou, olha, já não está!
Uma primeira experiência teatral para bebés, num espectáculo de movimento e cor que surpreende os mais novos.
Cie Jardins Insolites/França/Portugal
No teatro Maria Matos


Já tinha gostado bastante da experiência anterior com esta companhia no 1,2,3...Cores, mas hoje acho que gostei ainda mais. Apesar de anunciado dos 0 aos 15 meses esta é na verdade uma peça que dá para crianças até aos 3 ou 4 anos pois a simplicidade e poesia que a constroem encontram nestes meninos mais velhos ecos que lhe conferem outros sentidos, quem sabe, se não bem mais profundos justamente por ser dirigida, aparentemente, aos mais pequenos. O A. esteve estático todo o tempo perante os gestos e pequenos quadrados de cores que povoavam a brevíssima narrativa deste momento teatral. A actriz-bailarina em meia dúzia de palavras e objectos prendeu-lhe de tal forma a atenção que me atrevi a nunca lhe dizer nem explicar nada durante todo o tempo para não estragar a magia daquela concentração tão dedicada. Na primeira fila, sentado direitinho no seu quadradinho laranja, o A. nunca se virou para trás, nunca fez uma pergunta, nunca se distraiu. E no fim, depois de ter aplaudido veementemente, vira-se então para mim com os olhos brilhantes de contentes e afirma sem ninguém lhe ter perguntado nada: eu gostei mamã! eu gostei!

E eu gostei que ele gostasse, gostei de confirmar que se fazem óptimos espectáculos para crianças sem pretenciosismos nem fogos de artifício desnecessários, gostei da sua atenção e autonomia, gostei de sentir que dentro dele amadurecem ideias e gostos que lhe dão forma ao mundo, gostei de participar nesse crescer fascinante, e gostei de até hoje nunca ter hesitado em levá-lo a espectáculos mesmo que a idade não correspondesse exactamente à sua (para mais e para menos).

E gostei de o ver satisfeito a dar um beijo à actriz de mote próprio e a apanhar os papelinhos amarelos do chão para levar ao amigo que fazia anos, duas provas de que ali, naqueles escassos 30 minutos, o momento teatral se cruzou verdadeiramente com a sua vida e o seu universo familiar.

Pena não ser possível descarregar as fotos que existem do espectáculo pois esta não faz jus ao que por lá se pode ver.

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sábado, setembro 25, 2010

manhã de Sábado






Na nossa casa viajam comboizinhos por todo o lado...
uuuhhhh... uuuhhhhhh
Quem disse que os miúdos precisam de brinquedos sofisticados?!

...e é tão bom o tempo preguicento do fim-de-semana!

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domingo, setembro 19, 2010

ontem ao jantar, a olhar para as ameixas...



A. : Olha mãe, são uvas!
Eu: uvas filho? Achas que são uvas?
A.: sim mãe, mas muito crescidas!

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quinta-feira, setembro 16, 2010

Finnhamn







Viajar pelos nortes tem destas coisas, viver dias e cores de Outono em pleno Agosto.
No arquipélago de Estocolmo visitámos Finnhamn, uma ilha pequena, bastante florestada, com pouco mais que uma pousada de juventude e uma quinta biológica.

Durante anos estas ilhas eram usadas para agricultura embora a camada de terra fértil seja reduzida e a sua espessura pouco dada a grandes safras, mas ao longo da segunda metade do século XX a tendência foi o abandono progressivo destas unidades rurais sazonais.
Actualmente existe uma Fundação que procura recuperar alguma dessa utilização agrícola subsidiando a recuperação de casas e quintas, e investindo na preservação do arquipélago e suas vivências naturais, culturais e económicas.
É o caso desta ilha cuja quinta (na verdade uma casota com meia dúzia de campos e algumas cabeças de gado) funciona até dezembro e depois retoma a actividade só na Primavera, recuperando de alguma forma a sua tradicional vivência agrícola de subsistência.

A viagem de barco pelo arquipélago merece post próprio.
Para mim, no meio da angústia mal disfarçada de deixar o A. com a avó durante tantos dias (uma semana! ai mãe galinha!) para ir de férias sem cadilhos (ai a culpa a insinuar-se!), este foi, surpreendentemente, um dia de tranquilidade e apaziguamento.
O verde da floresta e o passeio no meio das árvores, líquenes e arbustos, o cheiro a terra molhada, a visão de ilhas e ilhotas, água e embarcações, pássaros em movimento suave, tudo se conjugou de forma bonita e calmante.
A água e o horizonte costumam ter esse efeito apaziguante em mim.
A luz esbranquiçada, que dá um aspecto espesso e suave à tona da água ajuda a acentuar a sensação.
As imagens do caminho sinuoso entre as muitas ilhas aparecerão um dia destes, sem ordem nem cronologia como tem sido costume ultimamente.

terça-feira, setembro 14, 2010

objectos



Oda a las cosas
por Pablo Neruda

Amo las cosas loca,locamente.
Me gustan las tenazas, las tijeras,
adoro las tazas,
las argollas,
las soperas,
sin hablar, por supuesto, del sombrero.
Amo todas las cosas,
no sólo las supremas,
sino las infinitamente chicas,
el dedal, las espuelas,
los platos, los floreros.

Ay, alma mía, hermoso es el planeta,
lleno de pipas por la mano conducidas
en el humo, de llaves, de saleros,
en fin, todo lo que se hizo
por la mano del hombre, toda cosa:
las curvas del zapato, el tejido,
el nuevo nacimiento del oro
sin la sangre, los anteojos,
los clavos, las escobas, los relojes, las brújulas,
las monedas, la suave suavidad de las sillas.

Ay cuántas cosas puras ha construido el hombre:
de lana, de madera, de cristal, de cordeles,
mesas maravillosas, navíos, escaleras.

Amo todas las cosas,
no porque sean ardientes o fragantes,
sino porque no sé, porque este océano es el tuyo, es el mío:
los botones,
las ruedas,
los pequeños tesoros olvidados,
los abanicos en cuyos plumajes
desvaneció el amor sus azahares,
las copas, los cuchillos, las tijeras,
todo tiene en el mango, en el contorno,
la huella de unos dedos,
de una remota mano perdida en lo más olvidado del olvido.

Yo voy por casas,calles,
ascensores, tocando cosas,
divisando objetos que en secreto ambiciono:
uno porque repica, otro porque es tan suave como la suavidad de una cadera,
otro por su color de gua profunda.
otro por su espesor de terciopelo.

Oh río irrevocable de las cosas,
no se dirá que sólo amé lo que salta, sube, sobrevive, suspira.
No es verdad: muchas cosas me lo dijeron todo.
No sólo me tocaron o las tocó mi mano,
sino que acompañaron de tal modo mi existencia
que conmigo existieron y fueron para mí tan existentes
que vivieron conmigo media vida y morirán conmigo media muerte.

segunda-feira, setembro 13, 2010

bio hortas em varandas - uma boa ideia!



mais informação aqui

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sábado, setembro 11, 2010

1,2,3... Cores!



Um belíssimo espectáculo para os muito, muito pequenos (dos 8 meses aos 3 anos) onde a cor protagoniza uma brevíssima história feita de gestos, objectos e descobertas simples.
Das peças mais bonitas e mais simples que tenho visto para crianças e talvez por isso mesmo uma das melhores.
Vale mesmo a pena increver-se e ir, a entrada é gratuita, e tudo acontece hoje, amanhã e nos próximos dias na Cordoaria Nacional (onde aliás a exposição VIVA a República merece uma olhadela atenta sobretudo para os amantes de história, sem crianças pois o texto é muito!).
Mais informação sobre o espectáculo para crianças Aqui

A mesma Companhia apresenta também este mês COU COU, em cartaz no teatro Maria matos e ainda para mais pequeninos. A meu ver, mais um momento que valerá certamente a pena não perder.

detalhes



sexta-feira, setembro 10, 2010

que vamos?







Assim começam actualmente todas as manhãs, seguidas de um não quero, quando a resposta é vamos para a escola, ou de um ar de entusiasmo quando o destino é mais desconhecido.
Por isso no Sábado rumámos ao Sobreiro de Mafra para ver o que as minhas memórias de criança me tinham deixado como boas recordações ainda sobreviviam e se o A. lhes achava tanta graça quanto eu.

Achou (e eu relembrei o tempo de catraia apesar de me lembrar de menos grades e protecções para ver as zonas com miniaturas em movimento e de recordar o oleiro José Franco no seu atelier, o que agora já não acontece).
Aprendeu coisas sobre os moinhos e os vários ofícios, deliciou-se com as casinhas e as pessoas a mexer e acabámos por trazer um pequeno moinho azul e branco com velas a sério para povoar a nossa mini-varanda e umas simpáticas andorinhas tradicionais de louça para acompanharem o sono do A. suspensas na sua bela parede amarela.

quinta-feira, setembro 09, 2010

Mamma Mia!



Nos últimos tempos os Abba são o grupo de predilecção e o Mamma Mia a faixa mais pedida!

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quarta-feira, setembro 08, 2010

arrebenta a bolha!




Mais um apontamento solto da viagem à Suécia.
À saída do Junibacken, um museu para crianças muito engraçado inspirado na literatura infantil sueca, deparámo-nos com estas bolhas gigantes para os miúdos brincarem.
O processo é aparentemente simples (entrar no invólucro de plástico vazio, fechar o invólucro e encher de ar já com a criança dentro) e o resultado é, como se adivinha, bastante divertido.
É óbvio que me parece uma coisa para miúdos intrépidos pois as voltas e reviravoltas sendo mais que muitas podem tornar-se um bocadinho assustadoras.
Pelo que conheço do A. acho que não iria na conversa!
(em compensação este pequeno Viking de farta cabeleira estava em perfeito delírio!)

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segunda-feira, setembro 06, 2010

suécia









Raramente começo um relato de viagem com comida mas apeteceu-me fazer-vos ficar com água na boca.
Das panquecas (que eram sempre consideradas kid's menu, como se os adultos não gostassem de panquecas!!!) à sopa de peixe e marisco, passando pelas típicas sandes de camarões encavalitados e um bocadinho sensaborões, fomos comendo o que o dinheiro permitia e a gula pedia (sim que por aquelas paragens os bolinhos de maçã e canela ou de cenoura e limão - e outras guloseimas que tais - eram demasiado convidativos para dois portugueses a precisar de compensar a falta de sol que ali se fazia sentir).

Escusado será sizer que da suécia vieram boas memórias (que já contarei com mais calma) mas também uns quilinhos a mais!

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