Dias mãeores

um blog de mãe para recuperar o tempo perdido em dias sempre mais curtos que o desejado

quarta-feira, junho 29, 2005

Um peixe no bolso

O mar é fértil na região de Pipa e uma saída económica para muitas famílias que se dedicam à pesca artesanal e tradicional da taínha junto à zona de rebentação das ondas.



Os homens, enfiados no mar até à cintura, fazem-no atirando, em movimentos vigorosos e ondulantes, uma grande rede circular que depois recolhem com calma e carinho.
Os movimentos ritmados e precisos numa fusão entre o sol, as águas e o corpo.


(peixes no bolso I)


(peixes no bolso II)

Uma breve hora de pesca rende um pequeno cesto cheio de peixes.
O mar é generoso por estas paragens e recompensa o esforço com alguma rapidez.
Os peixes volteiam nas malhas da rede, nas mãos, nos bolsos dos pescadores soltando breves reflexos de luz prateada ao sol...



Os movimentos destes homens, espalhados um pouco ao acaso pelas ondas inquietas, hipnotizam.
A luz, ora capturada, ora solta nas translúcidas redes que voam... cintilantes.
Dá vontade de também levar um peixe no bolso e deixar morar esta cadência salgada no corpo.

segunda-feira, junho 27, 2005

A cidade de Deus

"Se o livro já era extraordinário, o filme não fica atrás. Ressuscita em nós todos os clichês para impacto: soco no estômago, porrada, choque.
Considerando que CIDADE DE DEUS é baseado em histórias reais, nenhum programa de candidato ao governo deveria ser feito sem antes assistir ao filme, que só vai entrar em cartaz em agosto. Assistir a CIDADE DE DEUS é um dever cívico."

Zuenir Ventura, O Globo

Uma breve pausa nos relatos idílicos de um Brasil pacífico e paradisíaco para um retorno duro à realidade (ou a uma das realidades, já que há tantas quantos olhares!).
Vi ontem pela primeira vez o filme A Cidade de Deus.
As viagens têm destas coisas, deixam-nos sedentos, atentos, curiosos de informações sobre tudo o que diz respeito aos países visitados.

O Brasil não é um país mas um mundo.
Pela extensão, pela diversidade, pela riqueza, pela pobreza...

A Cidade de Deus é um documento extraordinário e uma obra-prima.
Andei a evitá-lo durante imenso tempo porque me impressiona a violência crua no écrã.
E no entanto considero-o agora uma obra incontornável para quem ter um retrato do crescimento do crime organizado nas favelas do Rio de Janeiro de uma forma vívida e lúcida, com um elenco de jovens não-profissionais oriundos dessas mesmas favelas (e que por isso mesmo emprestam um realismo extraordinário às representações) e uma fotografia no mínimo surpreendente.

Deixou-me a pensar, revoltada, tocada, a debater, a reflectir, com vontade de saber muito mais, e essa, para mim, é uma das medidas de sucesso de qualquer coisa: a capacidade de ultrapassar as fronteiras do momento em que acontece e passar a fazer parte da nossa vida.

Fica aqui a sugestão para os que nunca viram e o convite ao comentário daqueles que já tiveram o contacto com a coisa.
Há muito tempo que não levava um murro no estômago tão bem dado!

Que me perdoem todos aqueles que estavam à espera de fotografias e histórias de viagens com pitéus de fazer água na boca.
Amanhã, talvez.
Hoje deu-me para aqui.
O impacto foi muito forte, não podia passar em branco.

" O Haiti é aqui!"
(caetano veloso)

sexta-feira, junho 24, 2005

Uma farmácia no mangal


(bares de praia - Tibau do sul)

Entrados no ritmo pouco frenético do meridiano local, afastados os medos infundidos por muitos anos de relatos de violência gratuita em paragens brasileiras, começámos a abandonar as trilhas traçadas para os protugueses em turismo e decidimos passar a andar de transportes públicos.
A linha Pipa-Tibau-Goianinha é feita com pequenas carrinhas de 16 lugares carinhosamente designadas por "van" na gíria local.

- Seu moço olh'aí, vê si não vai falá autocarro! Aqui só tem ônibus e vans! (risos)

As vans, que passam com intervalos de 20 minutos (embora estes intervalos possam ter durações muito variáveis - deve ser do fuso horário!), têm todas um golfinho para serem identificadas e páram sempre que alguém lhes esticar o braço (o que quer dizer que pode ser de 10 em 10 metros). Levam oficialmente 16 pessoas e oficiosamente as que couberem (podem ser 25!), mas ainda assim são o transporte mais fiável e mais fácil de utilizar para quem quer andar de terra em terra a qualquer hora do dia e da noite.

Posto isto, lá "pegámos a van" para Tibau para um encontro marcado com o Farmácia que nos levaria de caiaque para meio do mangal na lagoa de guaraíras.
Chegámos cedo à praia de Tibau, onde a balsa transporta os carros para o outro lado, e o mar entra terra adentro misturando-se com a água doce da lagoa.


(caiaques do Farmácia - praia de Tibau do sul)


(entrada da lagoa)

A praia de mar revolto é um pequeno pontão de areia semeado de bares em barracas de madeira coloridas, ainda fechados a esta hora matutina. O cheiro a mar envolve intensamente o local e a confluência de ondas em direcções diferentes cria remoínhos e correntes que não nos descansam muito (afinal de contas a entrada na lagoa teria de ser feita pelo mar e a ondulação visível não era muito convidativa).


(bares na praia)

Chegado o Farmácia, homem seco de carnes, musculatura bem delineada e corpo saudável tisnado pelo sol, começaram os preparativos para não perder a maré. A entrada na lagoa faz-se com maré cheia para aproveitar a corrente. A duração do passeio ronda as 3 horas para beneficiar da leve correnteza que a maré vazante provoca nas águas à saída do estuário. É preciso evitar as balsas que cruzam o canal várias vezes ao dia.
Tudo bem pensado e controlado como mandam as lides do mar.


(Balsa)

O passeio começa com a ondulação costeira a testar o nosso equilíbrio.
Farmácia é homem calmo, sossegado, de trato franco e amigável, infundindo-nos confiança.
Os primeiros ressaltos rapidamente se tornam divertidos e o passeio começa imediatamente a valer a pena.


(já depois dos primeiros balanços)

A lagoa é ampla e povoada por vários tipos de barcos, na sua maioria de pesca. As águas, protegidas, na sua peculiar conjugação doce-salgado, são refúgio para inúmeras espécies em período de desova.
No entanto está hoje em dia circundada por dezenas de fazendas de camarão (o Rio Grande do Norte tornou-se recentemente o maior exportador de camarão de água doce) que lhe irão poluindo lenta mas inexoravelmente as águas até ao dia em que não houver retorno.
Por enquanto a biodiversidade ainda se mantém por aqui e o mar, que entra em golfadas neste estuário, vai-se encarregando de renovar as águas.

A erosão encarregar-se-á de alargar a entrada do estuário como já o fez anteriormente.
Na verdade, Guaraíras foi realmente uma lagoa até aos anos 60, altura em que a erosão acentuada do mar e das chuvas fez colapasar finalmente a barreira que separava o doce do salgado e obrigou a deslocar a aldeia para o alto da colina.


(início do mangal seco - ao longe - e molhado)

O passeio faz-se de forma calma, na cadência ritmada das pagaias e o seu chapa-chape melodioso na superfície da água.

Chape-chape .... chape-chape ...

A leve corrente a facilitar-nos a vida e a deixar tempo para o silêncio contemplativo ou a prosa agradável.
Os salpicos a aliviarem o calor.



A chegada ao mangal é emocionante.
As árvores com as suas raízes aéreas a fazerem o bailado sobre as águas, os caranguejos a treparem troncos acima, o chape-chape no meio dos ramos a perturbar a calmaria do local.
É fácil esquecer o tempo e deixar escorrer os minutos sem pressa.



Pelos muitos caminhos verdes e entrelaçados vêem-se garças negras (socós), garças brancas, caranguejos, guarda-rios, andorinhas das falésias, taínhas saltadoras.
As três horas prometidas alongam-se, fazem-se maiores e o embalo da água torna-se um prolongamento natural do nosso corpo.

Aaaaaahhhhhh vida boa!
Lisboa fica a anos-luz de distância...


(garça negra - socó)

O regresso à praia faz-se ao ritmo de cada um:
Farmácia atlético e vigoroso, S. entusiasta e contemplativa, J. pachorrento e satisfeito.
As ondas da praia permitem prolongar e apimentar um bocadinho mais a parte final da viagem.
Chegamos mais ricos e esfomeados, e a conselho (sábio!) dos locais preparamo-nos para um belo pitéu no bar do Adriano, paredes meias com a barraquinha dos caiaques.


(lagosta grelhada no bar do Adriano - uma especialidade da região)

E para mudar de assunto, desvendamos o mistério: porquê Farmácia?

Porque o carioca que temos em frente se mudou para esta região há vinte anos atrás, altura em que tudo eram lugarejos perdidos do mundo, sem serviços nem farmácias.
Por este motivo o Farmácia muniu-se de toda a sorte de medicamentos e afins que lhe permitissem enfrentar os achaques do corpo sem grandes sobressaltos.
Com o tempo a informação correu de boca em boca e a população passou a consultá-lo quando precisava de minorar os sofrimentos e maleitas.
O nome de origem (que nós também nunca chegámos a saber) perdeu-se para sempre e o rebaptismo fez-se através do atributo que para todos tinha sido a grande mais-valia do carioca.


Sô Farmácia, com muito orgulho!

(as fotografias da canoagem foram todas tiradas por ele - aqui fica a homenagem!)

quinta-feira, junho 23, 2005

Onde fica a realidade?


(Praia do Madeiro - Pipa)

A luz entrou timidamente ainda não eram 5 da manhã.
A noite precoce do Equador desemboca num dia madrugador, ainda o sono não se libertou das pestanas.
Saltei da cama de impaciência na disposição de explorar o local e mergulhei de chofre num calor húmido e envolvente.
Àquela hora só a chilreada enlouquecida dos pássaros fazia adivinhar que o mundo acordara.


(Praia do Madeiro vista do hotel - Pipa)

Tudo me pareceu mais promissor apesar das nuvens que ameaçavam mais chuva: a praia avistada do alto da falésia despejava a selva no mar até perder de vista, os bichos no seu despertar eufórico enchiam o ar de sons estranhos e aguçavam a curiosidade, os chalets e demais construções do resort, miscigenados com o verde circundante, pareciam mais genuínos e bonitos, a cerrada mata atlântica que envolvia o espaço, vislumbrada do alto do mirante, confirmava as razões da escolha do local.


(chalet - Village Natureza)

Respirei fundo.
Um colibri esvoaçou de repente, na sua frenética forma de beijar as flores.
Nem tudo estava perdido!


(café da manhã)

Depois de um "café da manhã" verdadeiramente retemperador o dia foi passado a explorar as redondezas.


(Pipa)

O desconsolo e desalento anterior foram cedendo espaço ao olhar curioso e inquiridor que sempre transportamos connosco quando viajamos.
As contradições e assimetrias adivinhadas na noite anterior lá estavam mas tudo ganhava contornos mais reais e verdadeiros.


(Pipa)

Afinal de contas não esperávamos nem queríamos um bilhete postal de agência de viagens pelo que o contacto com a cacofonia urbanística nos devolveu um olhar realista, crítico mas, estranhamente, apaziguador e estimulante.


(Pipa)

Pipa, apesar de destino turístico (e dos destinos que o turismo lhe tem reservado), não deixa de ser um lugarejo com a genuinidade dos espaços onde as gentes vivem e habitam.
Basta sair da rua principal para perceber que a vida decorre e transborda muito para além das fronteiras desenhadas para o europeu em viagem.
E, apesar de tudo estamos no Brasil, o que quer dizer que mesmo o espaço embelezado para o turismo guarda muito da sua alma transgressora de desarranjo e despreocupação.
As pousadas lado a lado com as pequenas casas, as lanchonetes e botecos de par em par com os restaurantes mais bonitos, as vendinhas e mercadinhos com víveres dependurados, um pouco por todo o lado.


(Goianinha)

De chinelo no dedo, camiseta de alças, homens e mulheres deambulam pelas ruas de terra batida carregando todo o tipo de coisas.
O movimento é cadenciado e ondulante, com o chinelar a ditar o ritmo e o tempo a decorrer numa outra lógica.
Vêm-se velhos, novos, miúdos, na soleira das portas em conversas arrastadas. Aparentemente a pressa não faz parte do vocabulário local e todos parecem esperar descontraídos o escorrimento das horas.
Oi seu moço, não precisa corré né?


(Tibau do sul)

As casas apresentam um colorido gasto pelas muitas chuvas (muitas vezes só na fachada) e uma pequenez impressionante.
A maioria delas são chácaras, sem vidro nem mosquiteiro nas janelas, que deixam entrever o interior de duas ou três divisões apenas, em escassos 20 m2.
Todas apresentam no entanto uma antena parabólica (a globalização portas adentro) ainda que as paredes sejam muitas vezes de adobe em equilíbrio precário.


(Chácara com parabólica)


(Chácara)

Nos pequenos lugarejos o casario acumula-se em torno das ruas sinuosas, talhadas ao sabor das necessidades, sem plano.
Pela estrada fora vêm-se casas esparsas, arrumadas um pouco ao acaso pelo meio dos coqueiros, por vezes em torno de pequenos terreiros de terra batida onde languescem miúdos, mulheres, homens e velhos nesse seu modo sorridente de deixar estar.


(venda)

Parece um mito esta história do ritmo tropical, dengoso, descontraído, quase despreocupado. E no entanto, mesmo no confronto com as histórias sofridas de quem tem 3 empregos por dia para poder "levar", subsiste uma sensação de surpreendente (e mesmo desconcertante) apaziguamento.
Vai fazê o quê seu moço?! tem qui si virá, né? A vida é prá levá!


(Travessia do rio Ceará-Mirin)

É preciso dizer que apesar da probreza do Nordeste (onde a diferença entre o litoral turístico e mais desenvolvido e o interior de Sertão seco e despovoado é gritante) a zona de Pipa, com o seu turismo e fazendas, oferece muitas mais oportunidades de trabalho. talvez por isso seja uma das regiões menos violentas do Brasil (Natal, a capital do estado do Rio Grande do Norte, onde fica Pipa, foi considerada recentemente a capital mais segura do Brasil).
Aqui o medo é o da "baixa", época em que o charter não aterra é época em que a vida se torna mais difícil.


(os tocadores da balsa - Tibau)

Porque na verdade "tem sempre com o que se virar": as hortas nos fundos das casas dão tudo o que nelas se semear, as ruas, os mercados, as praias, oferecem oportunidades intermináveis de negócio, o mar é uma fonte abundante de alimentos. Como dizia o Alexandre, resumindo o espírito da terra: aqui só passa fome quem for preguiçoso!


(Maracajaú)

A criatividade é premissa das gentes locais, se não há emprego, arranja-se qualquer coisa para vender e trocar: de manhã vendem-se côcos na praia, brincos, pulseiras, pesca-se taínha, à tarde conduz-se o transporte público local, trabalha-se na fazenda, conduzem-se buggys, faz-se de guia, à noite serve-se num restaurante, distribuem-se folhetos ou fazem-se tatuagens.


(Pipa)

É que neste aparente rame-rame faz-se muita coisa sem perder o tempo para prosear e a capacidade de rir do mundo.
Talvez seja esse o segredo.

E é neste contacto entre as imagens do paraíso prometido e o paraíso possível que se constrói a realidade.
Reais os dois afinal, o do postal e o outro.
Criadores, na sua contradição complementar, de uma atmosfera estranhamente cativante.
Que enfeitiça quem por cá está (ou aqui chega) e dificulta a vida a quem quer contar como foi.



Perdoem-se portanto se os próximos relatos não obedecerem a uma lógica cronológica (olhá cacofonia!) nem forem completamente perceptíveis racionalmente.
Na verdade, ao fim do primeiro dia de imersão verdadeira operou-se uma transformação particular que nos deixou presos às gentes, ao local, ao clima, de forma inexorável e inexplicável arredando as reservas iniciais para um qualquer recanto da História antes do Achamento.

quarta-feira, junho 22, 2005

Cruzar o oceano



O primeiro impacto fez-se ao anoitecer.
Na luz parda de fim-de-dia as marcas da chuva recente eram visíveis do ar e faziam temer o pior. Estradas de terra batida, vermelha e intensa, semi-alagadas, barreiras derrubadas e troços interrompidos, campos submersos num mar alaranjado de lamas arrastadas pela força das águas. O verde tropical, semeado de coqueiros esparsos, apresentava-se sarapintado de grandes "lagoas" e casas precárias, o rio Potengui, riscado de tantos castanhos quantos os das terras soltas da região, superava as margens e corria lamentoso.
Os receios de chuva trazidos de Portugal (onde a água tanto escasseia), associados ao cansaço da viagem, quase faziam vacilar a vontade de férias. Afinal de contas cruzáramos um oceano em busca de dias maiores e às 17h00 (locais) esta terra tão próxima do Equador presenteava-nos com a desoladora escuridão da noite precoce, semeada de promessas de chuva intensa.
E assim, ainda atontados, embarcámos no mini-bus que nos levaria a Pipa, para mais uma hora e meia de caminho na companhia de um grupo de portugueses com cara de caso e calcinha engomada.

O primeiro contacto com uma terra diferente é sempre de estranheza.
As viagens de avião encurtam distâncias suprimindo a noção de caminho, impedindo-nos de construir passo a passo o percurso e a interiorização progressiva que ele implica. Talvez por isso seja tão bom caminhar, os pés a delinearem o caminho, o corpo a aprender a distância com cada balanço. Neste caso, cuspidos do avião aos tropeços com as malas, cada um trazendo na bagagem as imagens arquetípicas com que vestiu o Brasil ainda em terras lusas, esta estranheza foi ainda maior. O escuro não ajudou a delinear o espaço circundante com as casas e as pessoas a surgirem espectrais à beira do caminho em flashs sucessivos.

A chegada ao resort foi o culminar de todos os receios.
O chalet cheio de insectos (sem mosquiteiro) prometia uma noite difícil.
O passeio a Pipa para um jantar quente (depois da comida de plástico do avião) revelou-nos uma terra pequena, com uma única rua principal e duas ou três ramificações, onde se alternavam restaurantes, boutiques mais ou menos chiques, lojas para turista e pousadas circundadas por um casario desordenado, descuidado e de uma degradação desoladora. O desalento parecia abater-se sobre nós de forma irremediável.
Só os camarões à baiana e a voz acalentadora de Caetano Veloso nos devolveram a confiança na opção feita e nos prepararam para o sono reparador(?).
Munidos de repelente (ó santa ingenuidade!) deixámo-nos finalmente vencer pelo cansaço e esperámos que o dia seguinte nos revelasse uma realidade diferente e mais prometedora. Com sol tudo melhora (haveria sol?!!!).

terça-feira, junho 21, 2005

o dia maior


(brincadeiras com a luz, maio 2005)

E não é que me esquecia!
Hoje é o dia maior do ano e claro que a data não podia deixar de ser comemorada neste blogue.
Hoje que os raios vão iluminar durante mais tempo não deixem de ser criativos na forma de os aproveitarem.
Nem é preciso tornar o dia maior porque isso já ele é.
Tenham boas ideias... luminosas!

Oi pessoal!



Viajar continua a ser a maior forma de libertação que conheço.

Destes dias ficou-me a morna languidez das horas que escorrem devagar, a descontracção e boa disposição de quem mesmo no limiar da sobreviência encontra formas de saber viver com prazer (tem que se virá, né?!), as fronteiras diluídas entre o verde luxuriante e o azul do mar.



Mas ficou-me também uma carraspana desgraçada que me está a tirar aos poucos as résteas de entendimento que ainda sobravam, um jetlag que não ajuda nada ao panorama geral e mordidelas de melga que me atazanam todo o corpinho.



Vão-me perdoar por isso todos os leitores que tão fielmente me têm visitado que os relatos substanciais só comecem amanhã.



Até lá ficam algumas das fotos que resumem parte da aventura geral (a parte do descanso e boa vida já se vê!)
As histórias virão mais tarde, prometo!

quinta-feira, junho 09, 2005

Zarpar



Chegou também a minha vez de zarpar, sobrevoar as grandes águas e mergulhar no Novo Mundo.
Sempre sonhei muito que voava, um voar de super-homem, de braços esticados à frente da cabeça e vento na cara.
O curioso é que nos voos sempre tive problemas com a elevação, parece-me que os propulsores não funcionavam como deviam e toda a gente me tocava nos pés apesar dos meus esforços (Freud explica, certamente).
Pois desta vez, para não correr riscos, opto pela tecnologia alada e entrarei nas grandes máquinas que inventámos para cruzar os ares e desafiar a gravidade.
A tocar-me os pés, provavelmente, só os sapatos do vizinho do lado e o colete salva-vidas sob o banco do passageiro.
Escolhemos um destino de sol, mar e verde, onde o tempo pudesse suspender-se a as horas durar esses longos momentos de uma inspiração prolongada.
Dias maiores, dedicados a caminhar, conversar, descansar, mergulhar e encher os olhos de tudo o que nos apetecer.
Estaremos na conjugação entre a mata atlântica e o oceano, essa zona de fronteira povoada de bichos e de luz.
Espero voltar renovada, com mais sugestões e histórias para partilhar.

Não se deixem ficar pelo sofá, façam crescer os dias.
Uma boa ideia é meio caminho andado...

Sugestões para os que resistem à canícula



Avizinham-se dias maiores, em fim-de-semana longo, soalheiro e apetecido. Para aqueles que não pensam fugir da urbe alfacinha fica uma pequena sugestão, a realizar na Fnac do Chiado, Sábado, pelas 11h00. Levem os miúdos a descobrir a Maria, pequena personagem de 6 anos, muitas perguntas e uma vontade interminável de inventar mundos. Os lugares de Maria é um daqueles livros para crianças que apetecem a todos os leitores que combinam letras com ideias e histórias com afectos.
Passem por lá, conheçam a Maria e a Margarida (a autora da história e das ilustrações) e assistam à animação do conto!

quarta-feira, junho 08, 2005

Memória




Agricultura da memória

Ali havia uma oliveira, naquele quintal
Em frente jogávamos à bola, lá ia ela de vez em quando
A bola perdida no quintal, o jogo parado.
Trepava a oliveira, tínhamos medo do velhote.
O velho do quintal, a bola, a oliveira.
Não, era uma figueira, dizes tu.
Era uma figueira? Era uma figueira.
A memória planta oliveiras onde havia figueiras.
Com que facilidade
A memória é uma grande empresa agrícola.

Luís Soares (em Tantas mãos, a mesma Primavera - poesia inédita)


Poema descoberto por acaso num livrinho oferecido pela Oficina do Livro Não há dúvida que ir à feira é mesmo bom para arejar as ideias.
E plantar memórias para grandes colheitas...

segunda-feira, junho 06, 2005

Determinação



Do meu banco de jardim recuso-me a ver passar o tempo.
Faço e desfaço as horas rodando os ponteiros do relógio para trás e para a frente como quem desafia o destino.
A pele fundida com o vermelho lascado da madeira, os veios desenhados nas pernas, os músculos tensos, prontos para a recusa da imobilidade.
Assim me preparo para saltar. A qualquer instante.
Sobre a minha própria falta de vontade.
Como uma sombra.
Sempre alerta...

Última Tentação



E então ela quis tentá-lo definitivamente. Olhou bem em volta, com extrema atenção. mas só conseguiu encontrar uma pera pequenina e pálida.
Ficaram os dois numa desesperante frustração.
Não há dúvida que o Paraíso está a tornar-se cada vez mais chato!

Mário-Henrique Leiria
(em Novos Contos do Gin, recém-comprados na feira do livro)



Passem por e deixem-se tentar...

quinta-feira, junho 02, 2005

Processo de diluição de uma árvore na luz do dia











Às vezes é bom olhar as coisas com outros olhos, vê-las diluirem-se no ar, encherem-se de luz.
O mundo torna-se então um espaço cheio de surpresas.